2.12.17

NISA: Quem se lembra dos Gaviões Futebol Clube?

Em cima, da esquerda para a direita: João Manuel "Fato Justo", Carrajola, Manhoso, Corrente, Manuel M. Bicho, António Emílio "Latão". Em baixo, pela mesma ordem: Bizarro, Pedro Roque, Joaquim M. Bicho, Jaime Miguéns e Manuel André
O desporto em Nisa, principalmente o futebol, é feito de muitas histórias e memórias. Umas com o carácter das competições oficiais; outras não menos ricas e cheias de simbolismo, escritas ou gravadas na memória dos dias e dos anos. O campo do Sobreiro, depois do campo do Alto de Palhais, foram cenários de jogos renhidos entre equipas populares, formadas com base no amor ao desporto e à camisola, com os "intérpretes" do jogo a pagarem do próprio bolso, as despesas com equipamentos, bolas e outros acessórios. Os Bombeiros tiveram uma equipa de futebol (como tiveram uma fanfarra). Nas décadas de 30, 40 e 50 do século passado, disputavam-se jogos entre adeptos locais do Sporting e do Benfica, mas não só. Formaram-se outras equipas como "Os Canários", estudantes em Arês e noutras freguesias do concelho.
Na década de 60 assistiu-se, talvez, ao aparecimento de uma das melhores equipas seniores que o Nisa e Benfica teve. Não competiam oficialmente, mas clubes de nomeada como Abrantes, Laranjeiro e outros vinham jogar a Nisa e baqueavam. O campo, nessa altura, nem balneários tinha, mas os domingos, em Nisa, nesses dias de futebol, eram verdadeiros dias de festa e a Estrada de Alpalhão, uma autêntica estrada de "romeiros", cheia de crianças, jovens e menos jovens, a caminho do Campo do Sobreiro. Os elementos das três equipas (visitado, visitante e arbitragem) caminhavam lado a lado (impensável nos dias de hoje) mais de 500 metros, fazendo soar com estrondo no pavimento alcatroado, o bater das travessas das botas, em ritmo cadenciado, como se de um tambor se tratasse a anunciar o "grande espectáculo". Lembro-me do Silva, um guarda-redes vindo de Portalegre, tapado, literalmente, com uma saca de plástico, em dia de chuva, a caminho do campo que mais tarde tomaria o nome de D. Maria Gabriela Vieira.
Podia acrescentar mais algumas memórias a respeito do futebol e do amor ao desporto, num tempo em que não existiam quaisquer infra-estruturas dignas desse nome, mas foram (são) os Gaviões F.C. os "heróis" e o motivo deste escrito.
Nasceram, no princípio dos anos 60, na Mercearia do senhor Corrente (Ceguinho) e com a quota de 25 tostões (os que podiam pagar) conseguiram arranjar uma ou duas bolas de catchú (quando rebentava o pipo era o cabo dos trabalhos...) e um equipamento composto de camisolas, calções e meias. O calçado ficava à responsabilidade de cada jogador e não era nada estranho ver-se uns a jogar com botas de futebol e outros com sapatos ou sapatilhas. Pouco interessavam, estes pormenores. Importante mesmo era o jogo. Os "treinos" constavam de uns toques em qualquer largo da vila ou numa azinhaga larga que ligava ao Alto do Barracão. Isto, enquanto não aparecia a GNR. Esta força de autoridade, naqueles tempos,  parecia ter pouco que fazer pois tinha uma adoração especial para perseguir e autuar as crianças e jovens que jogassem à bola, na vila ou fora dela. Estou até convencido de que não fomos mais cedo campeões da Europa por causa desta e doutras questões. A repressão era uma das componentes "culturais" do regime. Deixassem-nos jogar à vontade e outro galo cantaria...
Alguns destes elementos dos xutos e pontapés dos Gaviões Futebol Clube já não estão entre nós e esta foto e texto são também uma singela homenagem a esse tempo de amizade e companheirismo.
Desculpem qualquer coisinha, tá bem?