10.9.17

NISA: O regresso às aulas! (2)

 Alpalhão: Turma feminina (Anos 40)
Um dia talvez
Mais outro ano!
Na escola, começa
Agora
Asincertezas certas
Do início
Ou não.
Sem data marcada,
Sem hora aprazda.
A falta de mestres
A falta de espaço
A falta de tudo.
As habituais certezas incertas
Do dinheiro que é pouco
Para a paga
A educação prometida.
A educação garantida...
Mas, 
A esperança não morre
E, talvez um dia
Não se sabe quando
Não se sabe como
Um novo país
Vai concerteza
Devolver a esperança
A todos os homens
E
Aos filhos dos homens
Que um dia mais tarde
Virão a ser homens.
Francisco Narciso – 15/9/1995
Na idade própria
Na idade própria foste prá escolinha
aprender com letra muito redondinha.
Fizeste tricot, parecias rainha,
não sujaste os bibes, sempre arrumadinha.
Saíste da escola, sempre caladinha,
veio um namorado, mas tão seriazinha,
puseste o véu branco, tão bem casadinha!
De manhã à noite, tão asseadinha,
lavas bem os tachos, esfregas a cozinha,
pões as flores de plástico na tua salinha.
Como Deus mandou, cresce a barriguinha,
passam nove meses nasce-te a filhinha.
Fazes mais tricot, lavas mais roupinha.
Passam-se os anos, já és avozinha,
fazes mais tricot p´rá tua netinha.

Teu rosto, menina, não me sai da ideia,
vejo as tuas mãos a tecer a teia
em que, sem saberes, te vão enredar,
as aranhas anhas, do teu tricotar.
Se quiseres ser gente já não é capaz,
a morte na frente, o tédio p´ra trás.
Mas tens de ser gente, tens de ser capaz,
dois pontos à frente, nenhum para trás!
Maria Rosa Colaço