O fim das guerras liberais em Portugal deixou
graves sequelas ao nível da tensão social. Nas regiões mais afastadas do centro
do poder, como o Norte, o Alentejo ou o Algarve, a vitória liberal não foi
sentida com o mesmo entusiasmo de Lisboa ou Porto. Estas tensões sociais foram
agravadas com as novas leis sobre recrutamento militar e o agravamento da
política fiscal e acabariam por dar origem à Revolta da Maria da Fonte, na
Primavera de 1846, cujo pretexto foi a proibição de enterramentos nas igrejas.
Montalvão não esperou pela Maria da Fonte. Sendo
terra de fronteira, sentiu de forma particularmente aguda o agravamento dos
impostos. Esta situação atirou cada vez mais montalvanenses para o contrabando,
actividade com forte tradição na terra.
Embalado pelo ambiente de revolta popular que se
começava a fazer senti um pouco por todo o país, o povo de Montalvão em peso,
homens e mulheres, acometeu, no final de Fevereiro de 1846, contra o Posto de
Alfândega e obrigou os seus empregados a fugir para Nisa com receio da própria
vida.
A 3 de Março desse ano, Inácio da Silva Carvalho
Ferreira, sub-director da Alfândega, vendo que não conseguia retomar o controlo
do Posto, enviou um escrivão com um ofício para o governador civil de
Portalegre, João Bernardo de Sousa, solicitando uma força militar de 40 homens,
10 de cavalaria e 30 de infantaria. Este, por sua vez, encarregou o referido
escrivão da Alfândega de levar um ofício seu, com informação mais detalhada,
para o comandante da 7ª Divisão Militar.
A situação só ficou resolvida, com o regresso à
normalidade, alguns meses depois.
São os dois ofícios, acima citados, que se
juntam em anexo, provenientes do Arquivo Histórico Militar.
Jorge Rosa