26.2.16

NISA - CEDILLO: Que é feito da cooperação transfronteiriça?





Realiza-se amanhã, sábado, em Cedillo mais uma Matanza Internacional do Porco, agora menos Matança e menos Internacional, quase exclusiva para os da casa e pueblos vizinhos.
Mas não era assim há vinte e mais anos, quando tais iniciativas eram verdadeiramente manifestações de festa e convívio entre os povos de um e do outro lado da fronteira, irmanados por uma história quase comum e identificados por uma língua que não permitia o estabelecimento de barreiras ou obstáculos.
A Matanza-Matança era uma festa luso-espanhola que unia os povos de um interior ibérico afastados dos grandes centros de decisões. Os três municípios (Nisa e Vila Velha de Ródão e Cedillo) coordenavam esforços e acções para fazer desta iniciativa uma festa fraterna e uma abraço entre as gentes dos dois territórios, separados pelas incompreensões de um poder regional que olha para os interesses das populações em função da contabilidade eleitoral.
Há mais de trinta, quarenta anos, que ouvimos falar da construção da ponte sobre o Sever. Era já um "projecto" no tempo dos dois fascismos (o português e o espanhol). Depois veio a democracia e o sonho da construção da ponte ganhou uma nova força e esperança. Quantas e quantas notícias, em jornais portugueses e espanhóis,  a anunciar o "projecto" e as obras da ponte. Projectos que nunca passaram  de meras intenções, mau grado as avultadas verbas gastas em gabinetes de engenharia, desenhos, planos e sei lá que mais...
A Matanza, tal como a ponte, também foi perdendo fulgor e a sua característica principal: a de uma festa dos povos da raia, de uma raia cada vez mais despovoada e envelhecida, carente de laços de solidariedade como de pão para a boca.
Laços que só não se extinguiram graças à realização, anual, da Rota do Contrabando. Tem sido esta iniciativa, nos últimos anos, que tem mantido de pé, as relações de amizade e a esperança da construção do sonho que une os dois povos: a implantação da ponte e o estabelecimento, diário e contínuo das comunicações entre os dois municípios e os dois países.
Chega de indefinições. O futuro destes povos e destas regiões não pode esperar mais tempo.
Mário Mendes