19.2.16

CRÓNICAS DA TABANCA: Manhã no Mercado





Visitei pela primeira vez no passado domingo, o Mercado Municipal, após as obras de remodelação de que foi alvo.
Numa manhã fria e com um tempo agreste, não foram muitas as pessoas que se deslocaram àquele espaço de comércio e de convívio.
Observei o novo aspecto do Mercado Municipal, inaugurado há mais de 50 anos. Fechei por momentos, os olhos, e viajei no tempo, procurando as lembranças de tantos e tantos momentos felizes ali passados, nas visitas a meu pai, funcionário da Câmara e do Mercado, a tempo inteiro e sem dias de descanso em troca de um salário de miséria.
Ainda me lembro dos bailes no Mercado. A orquestra a tocar no centro do recinto num palco improvisado, em cima do poço que as obras de remodelação extinguiram. O senhor Bugalho, rosto avermelhado, a tocar o saxofone, rapazes e raparigas, a dançarem, animadamente, em volta do palanque.
O Mercado Municipal há muito que merecia e justificava as obras de restauro e modernização a que agora foi sujeito. Pela sua idade e, principalmente, pelo conforto e comodidade, tanto de quem ali vende – estes, em primeiro lugar – como de quem se desloca não só para fazer compras, mercar, como para aproveitar as manhãs de quintas-feiras e domingos para conviver, confraternizar à volta de um cafezinho e de um pedaço de brunhol do Ti Serralhinha.
O Mercado Municipal – este e os outros por esse país fora – são ainda uma réstea do mundo rural que a chamada modernidade foi, aos poucos, aniquilando e permanecem como espaços de excelência de trocas comerciais, de convívio e de afectos.
Devo dizer que gostei do que vi. As obras não estão ainda terminadas. Há ainda muitas correcções a fazer e, talvez por me apresentar com a máquina fotográfica, logo se me apresentaram alguma pessoas chamando a atenção para este e aquele problema.
São questões simples e pouco onerosas de resolver, não tendo a pretensão de fazer aqui uma listagem de todas as situações.
Algumas saltam à vista. A conclusão das rampas de acesso, em toda a sua extensão e garantindo uma zona de salvaguarda para a entrada de pessoas e veículos é uma delas. A outra, respeita à instalação de algerozes em todo perímetro do telhado do edifício, nomeadamente, nas entradas. Num dia de chuva como foi o de domingo, a intempérie fustigada pelo vento entrava pelo Mercado, atingindo, em primeira instância, os vendedores mais próximos da entrada.
À parte, estas questões, as pessoas que ouvi mostraram-se satisfeitas e elogiaram as obras de remodelação, lamentando, apenas, as condições atmosféricas do dia, que impediram que mais pessoas se deslocassem ao Mercado.
Uma palavra para os painéis de azulejos. Há por aí quem se mostre preocupada com o seu custo, esquecendo ou julgando que perdemos a memória em relação a outros custos, sem justificação e cabimentação, feitos no tempo da outra senhora.
Eu não estou preocupado com os azulejos. Estão ali, à vista de toda a gente, para serem apreciados ou criticados. São património colectivo, de toda a comunidade. Gosto. Tanto, que em minha casa, aquando da sua construção, fiz um esforço suplementar para instalar um painel à entrada. Motivos de Nisa, tais como os do mercado. Património histórico, afectivo, elogiado por quem me visita. Como, julgo, serão os do Mercado Municipal. Um deles, junto à venda de brunhol do Ti Serralhinha (há-de ser sempre o Ti Serralhinha, que Deus haja) fez-me viajar à minha infância e adolescência. Está ali o Mercado do Rossio, tradicional, pobrezinho, sem condições, mas alegre, cheio de cheiros e aromas com sabor a vida.
O painel, magnífico, retrata, de certa forma, as modificações que a vila foi sofrendo e as que ocorreram no conceito de espaço comercial.
Cinquenta anos depois, o Mercado Municipal de Nisa atinge, finalmente, as condições mínimas, de higiene, salubridade e conforto, podendo tornar-se – e deve ser aproveitado nesse sentido – como um espaço cultural, artístico e de convívio.
O pessoal da tabanca tem, desta vez, razões para estar contente!
Mário Mendes