27.1.16

OPINIÃO: Povo que (já não) lavas no Rio

Ao longo de muitos anos, desde o 25 de Abril, principalmente, o rio Tejo tem sido alvo de muitos discursos e intenções, todos eles virados para as “potencialidades”, os “recursos endógenos” ou “o desenvolvimento sustentável”. Foi slogan publicitário e de divulgação do concelho de Nisa e, provavelmente, de muitos outros. Municípios que dizem adorar o Rio, as belezas naturais, a pesca, o lazer, o património, os monumentos, a possibilidade de constituir uma mais valia, fundamental, para o desenvolvimento dos seus territórios e das gentes que neles habitam.
O rio - traço de união entre dois povos e países vizinhos – foi sofrendo, durante décadas, os mais graves e despudorados atentados, perante a indiferença, quase generalizada de quem tinha  e tem, o dever defendê-lo e de lutar pela sua preservação ambiental, paisagística, qualidade e constância do caudal das suas águas.
Os reiterados transvases em território espanhol, ao arrepio das leis e tratados internacionais e o desrespeito, vergonhoso, pelo povo de um país vizinho e parceiro comunitário, constituem uma “espinha” cravada no direito internacional, quase tão grande como a portuguesa Olivença.
Os atentados só não foram mais longe porque cá e lá (Portugal e Espanha) tem havido organizações, chamem-lhe ambientalistas, da defesa da terra ou bairristas – tanto dá – que têm denunciado as constantes agressões que o rio tem sofrido.
As câmaras municipais -, mudas, quedas e caladas - têm-se limitado a discursos ou comunicados de circunstância, remetendo os problemas do rio para os vizinhos do lado, aparecendo em público quando o eco dos protestos ou o caudal das agressões ambientais chega à comunicação social e sentem que a sua posição pode ficar fragilizada.
Tem sido assim ao longo dos anos e não me parece que, neste aspecto, algo vá mudar.
O Tejo serve para um belo discurso (Queijo, Tejo, Termas, ou vice-versa), para um excelente décor ou como pano de fundo para um cenário pré e pós eleitoral.
Depois, a conversa da treta toma conta do agitar dos dias e das preocupações políticas das administrações dos concelhos ribeirinhos.
Unissem-se todos os municípios, portugueses e espanhóis, das duas margens do rio e “outro galo cantaria”. Assim, cada um para seu lado e defendendo a sua dama - uma “dama”, por vezes, contrária aos interesses do rio – não chegarão a lado nenhum.
O Tejo, o rio da minha aldeia, continuará a degradar-se e a ser cada vez mais, um esgoto a céu aberto com nome de rio.
Por nossa culpa!
Mário Mendes