MEMÓRIA: A Inauguração do Café Restauração há 70 anos

A leitura de jornais, alguns já bastante antigos, permitem fazer uma "viagem" ao passado e trazer ao presente, notícias e acontecimentos, que hoje poderemos considerar banais, mas que na época foram marcantes para a vida do burgo e até do concelho.

Com alguma regularidade iremos trazer para deleite dos leitores/visitantes do "Portal de Nisa", alguns desses acontecimentos que consideramos relevantes, nos diversos domínios, para a história do concelho, tanto no campo político, social, cultural, comercial e outros.

A notícia do "Correio de Nisa" sobre a inauguração do Café Restauração - uma imagem de marca durante muitos anos - tem uma importância tanto simbólica (foi o primeiro café a ser criado em Nisa) como histórica, não só pela data e designação do estabelecimento comercial, como também por ocorrer no final de 1945, após o término da 2ª Guerra Mundial, em tempo de paz e, por isso, de renovação e confiança.

A inauguração do café marca, também, a ideia de um certo ressurgimento e de modernidade, num meio profundamente rural, fechado e dominado pelas elites locais.

A Inauguração do Café Restauração  

" Com desusada concorrência inaugurou as suas actividades comerciais, no dia 1º de Dezembro, o “Café Restauração”, novo estabelecimento que vem dar a Nisa mais uma nota de progresso, resultado de uma iniciativa feliz do Sr. José Tonilhas.

O “Café Restauração” ambiente confortável e delicadamente delineado será – tudo o indica – um ponto de reunião da melhor sociedade nisense. A farta concorrência, logo aos primeiros momentos de abertura, manteve-se até à hora de encerrar marcada pelo oferecimento duma taça de espumoso “Irmãos Unidos” (Caves da Anadia) que mandou aqui um dos seus viajantes.

No domingo,  após a sessão de cinema no Cine Teatro, algumas senhoras deram ao simpático ambiente do “Café Restauração” uma nota gentilíssima.

O “Correio de Nisa” regista com todo o prazer acontecimento de tal vulto e faz votos das mais largas prosperidades futuras."

A falta de água para consumo

Na mesma edição, a nº 20 de 9 de Dezembro de 1945, em que se dava conta da inauguração do Café Restauração, a falta de água e da sua qualidade para abastecimento público, era um dos temas em destaque no “Correio de Nisa”. Na primeira página, em artigo de grande fôlego, Manuel Mendes da Luz focava “O Problema das Águas em Arez”. Na última página, na local, “Notícias de Monte Claro”, a questão vinha novamente à tona, tal como se descreve: “Continua sendo deplorável a situação desta localidade no que respeita ao abastecimento de água para consumo público. A “Fonte do Ribeiro”, a única que existe, não passa de um charco, onde se gastam horas e horas consecutivas, à espera que do fundo lodoso brote uma pequena porção de água.”

Outra notícia sobre esta localidade, dizia:

“Está a proceder-se a uma leve reparação, na estrada que liga Monte Claro com a sede do concelho, o que, de dia para dia, se tornava mais urgente, atendendo a que em certos pontos, a via já se tornava um tanto intransitável.”

Mais de 70 anos passados, a água, em quantidade e qualidade  para o abastecimento público, continua a ser um problema por resolver na freguesia de S. Matias, apesar da população ter diminuído drasticamente. Quem diria?