27.10.15

NISA: A Inerte Zona Industrial (1995)

A Inerte zona industrial
À medida do que constitui “moda”, talvez há uma boa década decorrida, era quase comum constatar que as sedes de concelho almejando o apanhar do comboio dos novos adventos políticos da influência desenvolvimentista CEE, se deram por si a correr na criação de espaços destinados à materialização de um velho sonho regional: a indústria.
Daí que também Nisa não se fizesse rogada, ela, tradicionalmente lavradora e campesina, a preencher tão precioso requisito que lhe fora, aliás, sistematicamente negado pelas Câmara de “in illo tempore”. E agora cá temos, cá (a) temos, uma muito nossa zona industrial.
De maneira que, parece, não obstante o tempo decorrido (o tempo é oiro!) que temos zona e um bom número de investidores potenciais que a adquiriram... na totalidade.
Mas... e os investimentos? Mesmo à lupa, parece que não se lobrigam em mexida de concretização, ou mesmo começo.
Positivamente, o NN admite que, na Câmara deve haver uma mão cheia, pelo menos, de válidos projectos dos futuros industriais, capazes de gerar produção e de criar por lógica novos postos de trabalho, porquanto, o NN não se esquece, o Desemprego também grassa por esta terra, mormente a nível da nossa juventude. E também sabemos que poderão existir eventuais propostas de empreendedores externos que estarão possivelmente interessados na área de Nisa, se se lhes depararem condições de razoável viabilização instaladora e operacional.
Porém, se a zona já está saturada (ocupada) e não anda nem desanda, o que poderá fazer-se? Aí, a Câmara é que o sabe ou deve saber.
No entanto, a circunstância faz-nos recordar uma das satíricas e mordazes quadras do nosso popular e célebre poeta repentista Manuel Sentenças, de quem alguns ainda se poderão lembrar:
Arde o verde pelo seco
Paga o justo pelo pecador
Por causa de um reles enredo (1)
Fica Nisa sem Valor!

(1) – Na altura de uma crítica à CMN, no final dos anos 20, o poeta era mais incisivo porque atacava um indivíduo que era galego e tinha grande poder camarário. Assim, na versão original é galego e não enredo. O enredo é nosso...

 Nota explicativa: O presente texto, da autoria de Carlos Franco Figueiredo (utilizava o pseudónimo de Stradivarius) foi publicado na edição de Outubro de 1995 no jornal "Notícias de Nisa".
Vinte anos e cinco executivos camarários depois, em 2015, o que poderia acrescentar-se a este artigo, crítico, face à inércia que então vigorava, em relação à Zona Industrial?
O nome do espaço foi,  entretanto, alterado para Zona de Actividades Económicas de Nisa. Algumas actividades, tidas na altura como promissoras arrancaram e com menor ou menor dificuldade foram-se mantendo. Poucas. Outras, quase não chegaram a abrir, encerraram e levaram com elas as promessas de um futuro risonho de trabalho e emprego. 
As premissas do artigo, vinte anos depois, não se cumpriram. A Zona de Actividades Económicas de Nisa continua a ser a Inerte Zona Industrial. Tal como em Outubro de 1995!