25.7.15

OPINIÃO: Ó Cavaco, ó Cavaco olha a boina...

Cavaco Silva tomou sempre ao longo deste mandato, a defesa das posições do governo.
Nada que espante, Cavaco Silva sempre foi politicamente de direita.
No entanto, enquanto Presidente da República, tem o dever da neutralidade e o papel de mediador nas causas fraturantes.
E foi a neutralidade e a mediação que foram por ele esquecidas, o que o levou a que nas suas últimas intervenções tenha despudoradamente tomado partido pelos partidos do governo e pelas suas "ideias para o país"
Ontem, falando no distrito de Portalegre, em vez de explicar porque ao longo de um mandato de oito anos, apenas agora, a meses de o terminar, quando já não aquenta nem arrefenta, veio visitar o distrito, resolveu apoiar o Ministério da Educação e a Câmara Municipal do Crato, no diferendo que vem mantendo com os professores os quais renegam a municipalização do ensino.
Há meses, os sindicatos de professores promoveram um referendo perguntando aos professores quem de entre eles está a favor da municipalização do ensino e quem está contra. Obviamente este referendo não tem valor legal, é apenas indicador da vontade dos professores. E a vontade dos professores revelou-se numa esmagadora maioria contra esta medida.
No concelho do Crato (PS) o presidente e vereação resolveram avançar com a municipalização do ensino, já em setembro.
De notar que neste concelho, o referendo obteve 100% de negativas.
Tem pois havido um braço de ferro entre presidente da câmara e os professores e as estruturas que os representam.
Digamos que no Crato os professores tem estado em luta.
E foi neste contexto que Cavaco Silva proferiu (mais ou menos) o seguinte:
"- neste país, sempre que é necessário modernizar há sempre forças de interesses corporativos que se lhe opõem. É urgente descentralizar imediatamente o ensino!"
(Alguns dirão que descentralizar não é municipalizar. E renhonhonhó, pardais ao ninho).
Ou seja, além de se colar às teses do ME e de algumas Câmaras, Cavaco Silva ofende os professores em dose dupla:
1. Nos últimos anos se houve classe profissional que investiu na inovação e na modernização foram os professores. Frequentando ações de formação pagas na maioria do seu próprio bolso, fora do horário de trabalho, portanto no horário em que devia estar a descansar e a conviver com a família, aos sábados e domingos.
2. Quanto aos interesses corporativos, idem aspas, não há classe profissional que tanto tenha prescindido e perdido dos seus direitos. Inclusivamente como já referi, o direito a estar com a família.
Ainda por cima estas falácias não batem certo com certa propaganda: "Portugal está a formar as melhores gerações de sempre. Vão lá para fora e competem de igual para igual com os seus coetâneos dos países desenvolvidos".
Em que ficamos? Formamos as melhores gerações de sempre mas os formadores (professores) estão caducos? E o sistema necessita ser deitado abaixo para fazer outro.
Temo que já não seja possível atender ao conselho de António Costa "vamos todos ajudar o senhor presidente da república a terminar o seu mandato com dignidade":.
E já não é possível cumprir este conselho porque sua excelência o senhor Presidente da República, a cada intervenção tem o rancor de confrontar franjas da sociedade portuguesa, franjas essas que ele tem o dever de também defender pois seria o presidente de todos os portugueses, caso não se tivesse transformado apenas no presidente da direita revanchista portuguesa.
O que ele está a merecer é uma enorme manifestação, dos ofendidos pelo dr. Cavaco e assim terminar o seu mandato conforme merece: ouvindo uma enorme vaia!
Jaime Crespo
Cabeça de lista por Portalegre pelo Livre / Tempo de Avançar