27.5.15

OPINIÃO: Maio maduro Maio

Sei de um país onde há vinte anos se comemora de Maio o dia primeiro.
Sei de um país onde há 30 anos se lutava pela conquista da jornada de trabalho de 8 horas.
Sei de um país que teve “praças de jorna”, mercados de mão de obra; de gente que lutou pelo direito ao trabalho e ao pão. Gente agredida, espezinhada, presa, sufocada...
Sei de um país que teve Catarina, mas também Caravela e Casquinha, Dias Coelho, Adriano, Zeca Afonso, cantores, poetas, operários de enxadas e das minas, gente vivendo e sonhando com essa doce palavra, Liberdade.
Sei de um país, de gente que descobriu mundos e fundos, desbravou caminhos e oceanos, construiu um império de quimeras.
Sei de outros países de longas planícies e desertos, de terra vermelha, em brasa, povoada de rios e tabancas, onde viviam pessoas, meus irmãos de pele mais escura, sentindo as grilhetas da opressão e tirania.
Sei de outros povos meus irmãos e de irmãos que não vejo há muito: Mondlane, Neto, Samora, Amílcar, Xanana, irmãos que me ensinaram balanta, quimbundo, crioulo, maconde e a rimar unidade com liberdade, consciência com independência.
Sei de outras músicas, do “cobiana djazz”, do merengue e da coladeira, da morna e da marrabenta, ritmos de paz e de guerra, de sofrimento e revolta, de dor e esperança.
Sei de um país que em Maio prolonga Abril e onde no mês da flores e das “maias”, das searas e das papoilas, nasce um cântico de liberdade que percorre o Gêba e o Zambeze, o Zaire e o Rovuma, levando até Díli a brisa da Libertação.
Mário Mendes - Maio de 1984