4.3.14

PONTE SOBRE O SEVER: Barcaça rima com trapaça

A construção da ponte internacional sobre o rio Sever, ligando o território do concelho de Nisa (Montalvão) e a província de Cáceres (Cedillo) voltou a estar na ordem do dia e pelos piores motivos.
Reivindicação antiga dos povos de um e outro lado da fronteira, lembrada, sempre, aquando da realização da Matanza Internacional do Porco, em Cedillo, a construção da ponte foi apresentada, finalmente, como um projecto estruturante e desenvolvimento da região transfronteiriça, num processo de candidatura entregue na UE e que tem como parceiros a Deputación Provincial de Cáceres, à data liderada pelo PSOE, e a Câmara Municipal de Nisa, na altura com maioria PCP/PEV- CDU.
O projecto foi aprovado no início de 2011. As verbas disponibilizadas, os principais objectivos do projecto foram, já, amplamente descritos e divulgados, pelo que me abstenho de os referir.
A ponte sobre o Sever, depois de tantos e tantos anos de promessas e incertezas, ganhava força e uma esperança inaudita, firmada no compromisso institucional assumido pelos dois parceiros.
Em Novembro de 2011, houve eleições em Espanha. O PP (partido “irmão” do Paulinho das feiras”) venceu e conquistou, pela primeira vez, a Deputación de Cáceres.
Os novos “diputados” continuaram a manter e a garantir, a construção da ponte sobre o Sever, como um objectivo fundamental. Uma “garantia” que apenas servia para os discursos oficiais e oficiosos, enquanto, internamente, apresentavam essa reivindicação justa das populações cedillanas e montalvanenses, num gesto depreciativo e de vingança política, como “a ponte do Miguel”.
Miguel Angel Moralles, deputado provincial de Cáceres e responsável pelas Obras e Infra-estruturas da Deputación, juntamente com António Riscado González, alcaide de Cedillo, ambos eleitos pelo PSOE, deram a cara, a vontade e a persistência para que a construção da ponte sobre o Sever fosse uma realidade.
Um e outro foram enganados pelas manobras políticas e estratégicas eleitoralistas do PP cacereño. A ponte, soube-se, em Abril de 2013 – o anterior executivo da Câmara de Nisa, em ano de eleições, fechou-se em “copas – deixara de ser uma prioridade para os “populares” da Deputación de Cáceres. Gastaram dinheiro a rodos em projectos e propostas de localização da ponte, avançaram com infra-estrutura rodoviárias na serra de San Pedro, na tentativa de justificar o injustificável e, por fim, argumentando com a escassez de verbas, avançavam, como alternativa, para a instalação de uma barcaça, intenção que um dos vices da Deputación se apressou a transmitir, como dado adquirido e irrefutável, a um blog de Castelo de Vide.
O desenvolvimento do processo, a contestação às intenções castelhanas, da direita, e a reivindicação de assunção dos compromissos assumidos, por parte do Município de Nisa, já os leitores conhecem.
A ponte internacional sobre o Sever é uma obra fundamental e um desejo, antigo, das populações para o desenvolvimento de uma das regiões mais pobres e desertificadas da Europa.
Não podemos deixar que esta obra, considerada prioritária e essencial pela UE, reivindicação justa das populações hispano-lusas, seja remetida para as calendas da memória e tornada irrealizável pela decisão, unilateral, de um dos parceiros do projecto, à revelia e contravenção, dos compromissos institucionais e comunitários assumidos.
Muito menos poderemos admitir que tal recusa se fundamente num acto, “puro”, de vingança e de retaliação política sobre aqueles que, desde sempre, tomaram nas suas mãos a defesa das suas terras e das suas gentes.
Recomendo, para uma melhor apreciação de todo este processo, a leitura dos textos de José Monteiro, intitulados “A Barca do Purgatório I e II” (em boa razão, o título deveria ser a “Barca do Inferno”) em  http://maladeporao.blogspot.pt/2014/02/a-barca-do-purgatorio.html e http://maladeporao.blogspot.pt/2014/03/a-barca-do-purgatorio-ii.html
No primeiro, José Monteiro faz a cronologia, clara e imparcial, de todo o processo. No segundo, remete para a Deputación Provincial de Cáceres, algumas questões pertinentes, terminando com uma Carta Aberta de contestação às intenções cacereñas.
Apelo a todos os nisenses do concelho e alentejanos, em geral, que entrem no site e, a exemplo de José Monteiro, copiem e enviem a Carta Aberta ao presidente da Deputación de Cáceres.
Já chega de negaças, de tomadas de posições unilateráveis e de desrespeito pelos compromissos assumidos, atitudes, ainda por cima, sustentadas em argumentos e dados que não respeitam os princípios da cooperação institucional e da seriedade.
Façamos ver aos nosso “vizinhos” espanhóis do PP que “Barcaça (não pode) rimar com trapaça”.
Mário Mendes