2.2.14

OPINIÃO: Governar para as elites

Na China, tem início por estes dias, o ano 4712, um ano associado ao cavalo de madeira, segundo os entendidos na matéria, o “cavalo é um símbolo universal presente no inconsciente coletivo da humanidade e é conhecido por ser um grande aliado do ser humano, um trabalhador incansável, símbolo da força que quando bem direcionada pode nos levar muito longe”.
E, talvez agora, imbuídos neste espirito chinês, possamos entender com mais exatidão, a indisfarçável euforia governamental, nomeadamente da Ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, em relação às primeiras estimativas do INE sobre a evolução da economia portuguesa no primeiro trimestre do ano corrente. Tudo é uma maravilha, ao olhos de Maria Luís, até pretende rever em alta o crescimento do PIB, apesar do Banco de Portugal sugerir “cautela” na análise destes dados, que só são projeções dizem-nos. E os números quando torturados dizem aquilo que queremos ouvir, principalmente antes de eleições!
E enquanto o mundo festeja a passagem do ano no oriente – este ano sem fogo-de-artifício (por motivos de saúde- diz o governo chinês), nós por cá, nesta ocidental praia lusitana, aqui sim por motivos de saúde mental, com a comunicação social a encher-nos a cabeça com “lixo noticioso”, com uma discussão nacional sobre praxes académicas, e com as últimas notícias sobre transferências de “jogadores da bola”, entre outros temas muito importantes para o nosso futuro coletivo, certamente!
Temas, deveras importantes, com agenda própria na comunidade, como o aumento das desigualdades económicas no mundo, principalmente em países como Portugal, tal como é descrito no relatório "Governar para as elites: sequestro democrático e desigualdade económica" da organização não-governamental, com sede no Reino Unido – OXFAM, no passado dia 20 de Janeiro, afigurando-se como um importante risco para o progresso humano.
Mas como é que podem estar assim tão eufóricos com dados tão pouco sustentáveis sobre a economia nacional, quando sabemos que metade da riqueza mundial é atualmente detida por 1% da população, e em Portugal mais do que duplicaram os rendimentos nacionais dos mais ricos, em tempos de crise, o que só vem provar, mais uma vez, que a austeridade quando nasce não é para todos. Mas estamos no caminho certo! Mas como? Quando as desigualdades aumentam desta forma dramática.
Mais, alerta que “este aumento das desigualdades deve-se em grande parte à desregulamentação financeira, aos sistemas fiscais e às regras que facilitam a evasão fiscal”. Mas isso não importa referir, porque os mercados podem ficar nervosos.
Ainda segundo o “Relatório de Ultra Riqueza no Mundo 2013” existiam em Portugal 870 pessoas multimilionárias (+10,8%) com fortunas superiores a 25 milhões de euros cada, totalizando um montante de mais de 100 mil milhões de euros. E aqui o governo, decidiu distribuir benefícios fiscais a estas pequenas fortunas, coisa para pobres, sem importância, só para aumentar a clivagem entre os mais ricos e os mais pobres. Foram benefícios de vários milhões, como por exemplo o que foi dado à Sociedade Francisco Manuel dos Santos SGPS (Pingo Doce), a empresa privada que mais recebeu de benefícios fiscais no ano fiscal de 2012, com 79,9 milhões de euros.
Depois de 2013 – ano da Serpente, com muitos sacrifícios impostos à maioria dos portugueses que vivem ou viveram do seu trabalho (pensionistas, desempregados e funcionários públicos), esperemos que este “cavalo de madeira” venha trazer em 2014 a tão prometida transformação, principalmente no campo das ideias políticas, que tanta falta faz, neste Portugal cada vez mais injusto e mais desigual. Para mal dos nossos pecados, vivemos num país “inconseguido”, como diria a Presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves.
JOSÉ LEANDRO LOPES SEMEDO