15.10.13

AUTÁRQUICAS 2013: Vamos lá contar mentiras (II)

 Como se disse no primeiro texto, não houve, até ao momento, qualquer análise eleitoral e o reconhecimento da vitória ou derrota, numa perspectiva geral. Agradecimentos aos eleitores e aos candidatos fizeram-no todos os principais candidatos, para além de um comentário do presidente da concelhia do PSD e de um post do presidente da concelhia do PS, que não é mais do que uma carta de despedida, um e outro, não assumindo a responsabilidade pelos resultados negativos e, no caso do PSD, “transformando” até, a derrota em toda a linha, numa “vitória” assente no aumento percentual.
3 – Como reagiram os partidos aos resultados?
No entanto, militantes e simpatizantes – mais aqueles do que estes – dos partidos que sofreram derrotas e fizeram gorar as expectativas que anunciavam, têm razões mais do que suficientes para questionarem não só as respectivas lideranças como, principalmente, as estratégias e critérios de formação das listas, face aos resultados obtidos.
O PS, pela “pena” do seu presidente da concelhia, diz que “recuperámos” a Câmara de Nisa, apesar de ter estado do mesmo lado mas “não junto”. Despede-se do cargo, informando de que irá haver eleições dentro de 90 dias, mas nada diz sobre o autêntico “tsunami” que varreu as freguesias socialistas, cujas listas candidatas seriam, em primeira análise, da responsabilidade da Concelhia. Nunca conheceremos, pela concelhia local do PS a avaliação sobre o que correu mal, apesar de termos ficado a saber que “ao longo de todo este processo eleitoral terão ocorrido uma série de atropelos, nomeadamente aos Estatutos do PS, bem como insinuações, ingratidões, autismos e prepotências desmedidas”.
Situações menores e sem gravidade suficiente para levar o presidente da concelhia a tomar a decisão de demitir-se. O que faz, agora, em relação à derrota eleitoral para as freguesias. A concelhia de Nisa do PS, através do seu presidente “lava as mãos” como Pilatos e, caso arrumado...
O PSD em comentário mais moderado e truculento, transforma a derrota eleitoral de votos, mandatos e objectivos, em vitória expressa, “percentualmente” não explicando como teve menos votos para a Câmara, Assembleia Municipal (menos um mandato) e freguesias, em relação a 2009 e apesar de concorrer, agora, coligado com o CDS/PP.
E como não tem argumentos credíveis para apresentar sobre os seus próprios resultados, “desvia” o comentário para a prestação eleitoral dos outros partidos, decretando a vitória do PS para a Câmara como uma vitória pessoal de Idalina Trindade, esquecendo que a mesma se deve ao facto de ser a candidatura mais experiente, com maior capacidade e conhecedora dos problemas concelhios.
O presidente da concelhia do PSD entra em contradição quando afirma que o resultado assinalável (vitória clara e convincente estaria mais correcto) da CDU para as Assembleias de Freguesia “comprova que os eleitores sabem distinguir as eleições para os diferentes órgãos” para logo desmentir esta evidência afirmando que a mesma é “um sinal de que a dependência do eleitorado mais idoso dos poderes instalados ainda pesa nas freguesias”. Franco não vive no concelho e esse facto pesou bastante quer na composição das listas “laranjas” quer na apreciação dos resultados eleitorais. E, por isso, não sabe – ou não quer – explicar o que se passou, por exemplo, em Alpalhão, um antigo “bastião” social-democrata e onde a CDU ganhou, pela primeira vez, a Junta.
E quem deu a vitória à CDU nesta freguesia? Os “idosos mais dependentes dos poderes instalados”? Ou seriam os jovens? O parágrafo seguinte do seu “Comentário” é, de todo, e num português escorreito, indecifrável. Faz lembrar a “pérola” do candidato da CDU à Câmara quando, em pleno debate radiofónico exclamou: “Ser desconhecido é uma vantagem, porque se fosse conhecido ganharia com maioria absoluta”.
Ousamos questionar: se o melhor resultado do PS para a AM foi por “arrastamento” da votação para a Câmara, “como quase sempre acontece”, por que não ganhou o PS a Câmara em 2009? E, retomando o Comentário, nem sequer vamos pensar no que poderia acontecer se “a situação do país fosse diferente”, porque Franco – dixit – sentencia que “os eleitores sabem distinguir as eleições para os diferentes órgãos”.
Quais seriam os resultados do Novo Destino laranja e azul, se os eleitores se lembrassem, por um momento que fosse, da troika e das malfeitorias que o governo PSD/CDS tem feito ao país e de um modo particular ao concelho de Nisa?
Análise fina na “terra queimada”
A CDU não fez qualquer comentário aos resultados eleitorais, à excepção de um dirigente regional, por sinal, derrotado na Assembleia Municipal e Câmara do Crato.
Carmosino, reconhecendo que Nisa merece uma análise “mais fina” lá foi apontando o Movimento Independente como os “malfeitores” e principais responsáveis da derrota do PCP/PEV para a Câmara de Nisa. Chega a falar em “política de terra queimada”, esquecendo que os “incendiários” devem ser procurados internamente.
A CDU não se preparou para ganhar, mas, sim, para perder por poucos. Em 2001, na primeira mudança de ciclo político, o “delfim” de Basso – com melhor propriedade, uma “delfina” – teve a seu favor, apesar do lançamento tardio como candidata, a fragilidade das outras candidaturas. Uma delas, a do PS, parece ter sido feita de encomenda, para não criar entraves  à manutenção do poder.
Agora, a questão do “delfim” falhou, rotundamente. Talvez, por que o dito não foi tão “delfim”, seguidista e “yes men” como o “programado”. À pressa, a CDU teve que fazer inversão de marcha e procurar outro candidato. Conseguiu, apesar de todos os percalços da jornada, um resultado airoso, superior, até, àquele para que apontavam as expectativas mais optimistas.
Em vez de apontar a “terra queimada” como desculpa para a perda da Câmara de Nisa, Carmosindo devia questionar-se sobre as promessas e obras do executivo não concretizadas, as ilusões criadas a tantos e tantos jovens, a política de clientelismo seguida e, principalmente, o desprezo e a falta de diálogo com as populações que não eram do “emblema”. A CDU no concelho de Nisa, há muito que desprezou o estilo de trabalho unitário e de ligação às populações. A Câmara, falou, sempre, a uma só voz, a da dona. O aparatchik fez o seu trabalho, mas de forma inconsequente.
O PCP/PEV obteve uma vitória concludente para as Assembleias de Freguesia, por mérito próprio e demérito alheio, principalmente do PS, que não soube ler e interpretar os sinais de insatisfação, por um lado, e tendo apostado, preferencialmente, nos chamados “indefectíveis”. A alusão persistente que se faz ao facto de haver X eleitos na AM pertencentes à Comissão Concelhia – facto que, a meu ver, enfraqueceu a lista socialista – é apenas um indício da “ligeireza” com que as mesmas foram formadas. Não é compreensível e aceitável, por exemplo, que o primeiro candidato de S. Simão, à União das Freguesias, apareça na 5ª ou 6ª posição da lista.  No mínimo, pode ser entendido, como falta de respeito e consideração.
O PSD, em Alpalhão, poderia, com outra estratégia e outros candidatos, ter discutido a presidência da Junta. Fez mal o “trabalho de casa”, improvisou quando devia planear, e deixou, uma vez mais, escapar um objectivo político-eleitoral ao seu alcance. Os erros de uns, são a glória de outros e a CDU aproveitou para, pela primeira vez, ganhar a freguesia de Alpalhão.
O Movimento Independente “Mexer com Nisa”, arrancou tarde, com fracos recursos financeiros e sem o apoio dispensado às formações partidárias, realizou a campanha possível em tais condições. Recolheu o apoio suficiente para eleger um candidato à Assembleia Municipal e mostrar que a democracia não se esgota nos partidos. Pode, em última instância, ser o factor decisivo na eleição da mesa da Assembleia Municipal.
Mário Mendes