9.7.13

PRAÇA PÚBLICA (VI): Quem zela pelo nosso património arqueológico?


Uma subscrição para o Menir do Patalou
Primeiro, não se sabia quem eram os donos do terreno. Depois, os contactos eram difíceis e complexos, do tamanho da montanha erguida pelos burocratas da Praça do Pelourinho. Por iniciativa privada, vieram os proprietários, derrubaram-se as barreiras, desimpediram-se os burocráticos argumentos e pensou-se: É desta!
Qual quê. A maioria camarária que enxameia os discursos de “cultura” e de “património” diz não ter, agora, dinheiro para levantar o Menir, como se a tarefa ficasse tão dispendiosa como uma visita das “tias”.
O Patalou fica lá para “cascos de rolha” e uma pedra, mesmo gigante, está muito melhor deitada, dormindo a sono solto, tal como está há milhares de anos. Por que é que querem, afinal, levantar a pedra? Não estará melhor no sítio onde está? Sossegada e sem chatear ninguém? Já viram o investimento que temos de fazer nas Termas, ou na Zona Industrial? Não repararam, ainda, nos postos de trabalho que temos criado? E no combate à desertificação do concelho?
Uma pedra... Ainda se fosse um edifício de dez andares, uma rotunda, ou um monumento aos emigrantes...
Deixem-se disso e pensem mas é no progresso do concelho!
in "Jornal de Nisa" - 241 - 17/10/2007

NOTÍCIA - Menir da Meada classificado como Monumento Nacional


 Na sua reunião desta semana (24 Maio 2013) o Conselho de Ministros “aprovou a classificação” definitiva do Menir da Meada como monumento nacional, juntamente com outras cinco edificações e/ou sítios.
Fica assim concluído, ao fim de cerca de 19 anos, um processo que obrigou mesmo à reconstituição em 2012 (com a ajuda da Câmara Municipal de Castelo de Vide) do dossier que foi considerado como de “paradeiro desconhecido”. A proposta final da Direcção Regional de Cultura do Alentejo que o reconstituiu data de 3 de Junho de 2012.
O Menir da Meada, na Tapada do Cilindro, na freguesia de Santa Maria da Deveza, concelho de Castelo de Vide, distrito de Portalegre, foi “erguido no intervalo de tempo correspondente aos períodos Neolítico e Calcolítico”.
Descoberto em 1965, o Menir da Meada é o maior Menir da Península Ibérica com cerca de 4 metros de altura a partir do solo, e um diâmetro máximo de 1,25 metros, pesando cerca de 15 toneladas. Terá sido erguido no Período Neo-Calcolítico numa área rica em vestígios megalíticos, aparentemente alinhados entre si.O Menir da Meada apresentava-se fragmentado, tendo sofrido alguns trabalhos de restauro e consolidação (em 1993) que possibilitaram restituir a aparência original deste monolítico granítico de configuração fálica. Por despacho de 18 de Março de 1997 foi homologada a proposta de classificação como Monumento Nacional.
 Por que ficamos a "ver passar os comboios"?
O texto sobre o menir do Patalou, um dos muitos escritos por mim e por João Francisco Lopes desde 1998, chama a atenção, alerta e critica a impassividade - para não dizer o desleixo, a irresponsabilidade e a indiferença - dos poderes públicos locais (Câmara, Assembleia Municipal e Junta de Freguesia do Espírito Santo) sobre um monumento arqueológico de grande importância e que permanece, mesmo após as inúmeras denúncias públicas, ao abandono.
O que mais revolta, passados mais de 15 anos, já não é, sequer o mutismo e o silêncio comprometedor dos referidos poderes públicos, em especial, da Câmara de Nisa.
O que nos indigna é o facto de terem sido removidos, por diligências efectuadas pela associação Nisa Viva, os obstáculos à erecção do Menir do Patalou, constituindo esta obra - o seu levantamento e colocação ao serviço da promoção do concelho de Nisa - uma iniciativa de baixos custos, para a qual há arqueólogos e outros técnicos disponíveis e interessados na sua concretização, o que até hoje não tido em consideração.
O Menir da Meada, maior do que o do Patalou, mas, "colado", viu reconhecido o seu valor arqueológico, histórico e patrimonial com a classificação de Monumento Nacional, sendo um foco importantíssimo de atracção turística para o vizinho concelho de Castelo de Vide.
No concelho de Nisa, além do do Patalou há mais cinco ou seis menires. Como há, às dezenas, sepulturas escavadas nas rochas, antas, algumas das quais, como a dos Saragonheiros, em nada inferiores, em monumentalidade, à de S. Gens e outras classificadas, na região. A diferença é que, em Nisa, a Câmara tem outras "prioridades"; fala em descentralização e em participação, mas rejeita todas as ideias e propostas que lhe cheguem de pessoas ou de associações que tenham autonomia e pensem pela sua própria cabeça.
E, foi devido a esta "singular" forma de pensar e encarar o território concelhio, mais própria de um "aparatchik" do que de um órgão democraticamente eleito, que chegámos aonde chegámos: o concelho regride a passos largos, as intervenções urgentes e necessárias são adiadas sine die e a reabilitação do nosso património remetida para as calendas.
Resta-nos a esperança de que a nova Câmara - seja ela qual for - tenha, pelo menos, a virtude de saber ouvir.
Esse, o primeiro passo para poder analisar, avaliar, decidir e concretizar.
Mário Mendes