3.7.13

PRAÇA PÚBLICA (II) - Nisa tem (ainda) um Centro Histórico?

Centro Histórico: a poesia das raízes e a utopia das miragens *
O deslumbramento pelo “moderno” em oposição aos “antigo” colide, amiúde, com a “poesia das raízes”, traduzida no viver e crer e sentir” de que falava Herculano no seu estudo “Duas épocas, dois monumentos ou a Granja Real de Mafra (1843).
Dada a voragem do tempo que corre e face á prioridade que é concedida a tudo o que começa do zero, em prejuízo daquilo que já existe, torna-se imperioso opor à “utopia das miragens” o desejo de reabilitar, vivificando o território herdado, sob o signo da autenticidade humana, enquanto fundamento primacial dos centros históricos.
Como qualquer árvore, o centro tem a sua raiz. Constitui o ponto de referência da cidade ou da vila. Se estiver cuidado e limpo, se for seguro, poderá funcionar como um espelho para todas as freguesias de cada município.
Em oposição às cidades e ás vilas, há múltiplas experiências, ditadas por “miragens disruptivas”, que servem somente para devorar as raízes, ajudando ao despovoamento do centro e ferindo de morte o comércio local, sem esquecer (passe a ironia) o "precioso" legado aos vindouros de montanhas de encargos por liquidar.
Não está em causa a lição de Augusto de Campos, inscrita no seu livro Verso, Reverso e Contraverso, apelando à luta até à morte pelo "novo" em relação ao "antigo" e até à vida pelo "antigo" em relação ao "novo", porquanto "o antigo que foi novo é tão novo como o mais novo".
Do que se trata é de evitar que as vilas e as cidades se destruam na razão directa do que, supostamente, nelas se "constrói" ou "reconstrói". Com efeito, é possível inovar sem perder o sentido do adquirido: basta "casar" a "modernidade" com o "fascínio original" das raízes de cada "árvore-cidade, de cada "árvore-vila", de cada "árvore-pessoa"
* texto de José Miguel Noras -Secretário-Geral dos Municípios com Centro Histórico e ex-presidente da Câmara Municipal de Santarém - 26/2/2008
É urgente travar a morte anunciada do Centro Histórico de Nisa
Na manhã do passado sábado, voltei a percorrer as ruas do Centro Histórico, na tentativa de captar algumas imagens relacionadas com os santos populares.As ruas da “Vila” estão cada vez mais à mercê da indiferença, do desleixo, do abandono, da negligência dos poderes locais (Câmara e Junta de Freguesia). A degradação, a ruína, a sujidade, o entaipamento, forçado de edifícios, como “solução” para esconder o seu interior, o lixo amontoado e a eminência de derrocada, são bem visíveis, principalmente, na Rua das Adegas (Século), Angola e D. António Lobo da Silveira. O centro que já foi histórico, mostra evidentes sinais de decadência e abandono. Este estado lastimável do abandono e "deixa andar" chegou já, para minha surpresa, à Rua Dr. Graça, uma das principais do núcleo urbano original da vila de Nisa. Vi ali um cenário indigno: edifícios votados ao mais completo desleixo, com portas e janelas arrombadas, o lixo e excrementos a comporem uma imagem degradante, não só e principalmente para os residentes, mas para todos os visitantes que, na Porta da Vila são "atraídos" pela beleza deste monumento nacional e "convidados" a visitar os espaços museológicos existentes no interior do mal amado "centro histórico".Uma visita que começa logo com o "retrato" de um edifício em avançado estado de ruína, o antigo forno, adquirido pela autarquia e que não mereceu, em anos, qualquer operação de consolidação e restauro.Sendo a própria Câmara a dar o (mau) exemplo, não será de admirar o cenário com que nos deparamos a cada passo.O Centro Histórico de Nisa esta doente. Definha a cada dia que passa. Há muito que não há ali investimento, intervenções de fundo capazes de alterarem a "fisionomia" das casas, das ruas e dos largos. Aqui e ali vão aparecendo algumas pessoas idosas que resistiram e foram ficando nos edifícios degradados onde um dia, na lonjura do tempo, construíram os seus lares e tiveram os seus filhos e cadilhos... O centro, a bastide, a Vila, espera voltar a fazer História, se os homens que fazem promessas em tempo de eleições, transformarem a retórica em acções concretas. Os planos e processo burocráticos complexos em procedimentos simples e exequíveis. A informação, o esclarecimento e a disponibilização de técnicos, como método de trabalho e de acção em tempo útil.O Centro Histórico tem, ainda, uma réstia de esperança.
Esperemos que não a matem, de vez!
Mário Mendes