23.5.13

SANTANA (Nisa): Construção de sanitários públicos é “obra de Santa Engrácia”

PROCESSO ARRASTA-SE À MAIS DE NOVE ANOS
Em Arneiro, freguesia de Santana as obras de construção dos sanitários públicos são já consideradas pela população como as “obras de Santa Engrácia”, tal o arrastamento de uma construção que nasceu sob o signo da polémica e que tem sido alimentada ao sabor das conveniências e desavenças políticas.
Tudo começou em 2004 com o pedido de construção apresentado pela Junta de Freguesia e a elaboração do projecto pela Câmara Municipal. O terreno para a implantação dos sanitários públicos era, no entanto, propriedade da Paróquia e houve que obter autorização das autoridades eclesiásticas, a cedência do espaço destinado à construção das instalações sanitárias e a legalização por parte da Junta de Freguesia, processo que não foi tão célere quanto os interessados desejariam.
As obras arrancam, finalmente, passados três anos sobre o início do processo, adjudicadas à empresa Crespo e Parreira, tendo início a 28 de Junho de 2007 de acordo com acto de consignação das mesmas no valor total de 27.921 euros acrescidos de IVA e com um prazo de construção de mês e meio, valor este que seria subsidiado pela Câmara Municipal ao abrigo do Protocolo estabelecido com a Junta de Freguesia., sendo estas entidades responsáveis pela fiscalização da obra.
Foi construída o “esqueleto” das instalações sanitárias, com todas as suas divisórias, sem o reboco, no entanto, a 11 de Dezembro de 2007, a obra é mandada suspender por ordem da presidente da Câmara de Nisa, até que “o processo de regularização do terreno esteja concluído”.


A Junta de Freguesia pagou, em Janeiro de 2008, à empresa Crespo e Parreira a importância de 9.994,14 euros como valor dos trabalhos realizados, verba essa de que a Junta ainda não foi reembolsada como nos garante Francisco Boleto São Pedro, presidente da freguesia.
De finais de 2007 até ao presente, passaram-se quase seis anos. As obras não foram retomadas e transformaram-se em tema obrigatório de todas as conversas, consoante as sensibilidades políticas dos intervenientes. Estão ali, no largo principal da aldeia, próximo da igreja paroquial, no local onde fazem mais falta, seja pela realização das festas populares ou das cerimónias religiosas que regularmente ali ocorrem.
O processo de regularização do terreno foi, entretanto, concluído e todos os requisitos cumpridos por parte da Junta de Freguesia que em 14 de Dezembro de 2011 pediu à Câmara a respectiva licença de construção para que os trabalhos prosseguissem e a obra se concluísse. Não houve resposta da autarquia.
Em Abril e de acordo com informação remetida à Câmara Municipal, ocorreram actos de vandalismo na construção existente, concretizados no derrube de paredes interiores.


O autarca de Santana, Francisco Boleto São Pedro, diz não compreender o silêncio da Câmara Municipal e considera que  as casas de banho publicas “são um bem muito bom para a Freguesia,  pois junto àquele local se fazem festas, está perto da Igreja onde há casamentos e baptizados e as pessoas andam como antigamente, com calças e saias nas mãos,  por detrás de paredes e às vezes á vista de todos a fazerem as suas necessidades. Se as casas de banho estivessem feitas isto não aconteceria.”
A Câmara Municipal de Nisa foi por nós contactada, em tempo útil, sobre todas estas questões através de e-mail e não deu qualquer resposta às perguntas que formulámos.
O silêncio parece ser de ouro na autarquia nisense, mas, convenhamos: quase dez anos, para concluir uma obra de interesse público, não é, seguramente, o melhor cartão da qualidade de serviços, a que o município tantas vezes se arroga.
Em Santana há “obras de Santa Engrácia”. Estão à vista de todos e constituem, entre outras coisas, um monumento ao desleixo, à burocracia e ao mau uso dos dinheiros públicos.
Mário Mendes in "Alto Alentejo" - 22/5/2013