27.2.13

ACIDENTE NO IC8: Motorista aponta estrada como causa do despiste

Marco António Semedo é de Nisa. Casado e com três filhos, tem 47 anos e reside na Portagem (Marvão).
Motorista de transportes colectivos desde 1998, era ele quem conduzia na manhã de dia 27 de janeiro o autocarro da empresa espanhola Autocarros Rabazo, de la Codosera (Badajoz), que se despistou no IC8, junto ao nó do Carvalhal, acidente do qual resultaram 11 vítimas mortais, todas de Portalegre e uma de Assumar (Monforte).
O nosso jornal foi falar com Marco Semedo, para saber como se sente e o que pensa deste trágico acidente alguém que viveu e vive o que ninguém quereria viver.
Alto Alentejo – Há quanto anos é motorista de autocarros e onde trabalhou?
Marco Semedo – Sou motorista desde 1998, trabalhei na Câmara de Castelo de Vide e presentemente na firma Autocarros Rabazo em Espanha.
AA Qual o tipo de serviço que faz habitualmente?
MS – Faço transporte de crianças para Albuquerque.
AA Faz muitas excursões?
MS – Sim, faço muitas, praticamente todos os fins de semana.
AA Alguma vez tinha tido um acidente?
MS – Não, nunca.
AA - Como é que se sente depois deste acidente?
MS - Estou a tentar integrar o que vivi… não é fácil, não está a ser fácil… Estou tenso, não sei como hei-de explicar... (pausa) estou magoado, estou sofrido e estou abatido com a situação.
AA - Tem sentido apoio de amigos e de conhecidos em geral?
MS – O pessoal amigo e a população em geral apoiam-me. Perguntam-me como estou e dizem-me para ter calma, para seguir em frente. E a empresa também me apoia.
AA – Também ficou ferido no acidente. O que lhe aconteceu e como está?
MS - Parti umas costelas e fiz uma pequena perfuração de um pulmão. Estou a fazer fisioterapia respiratória e estou de baixa. Vou agora à consulta do seguro do trabalho.
AA – E tem tido algum apoio psicológico?
MS – Infelizmente não. Desde o primeiro dia que não tive qualquer apoio. Não estou a dizer que deva ser protegido, mas acho que devia ter algum apoio que não tive.
Já os meus familiares – a minha esposa e a minha filha mais nova que também foram vítimas do acidente – tiveram apoio enquanto estiveram internadas em Coimbra, depois não tiveram mais qualquer apoio.
A Câmara de Marvão mostrou vontade de apoiar mas não tem nenhum técnico dessa área, e até ao momento não há resposta da Segurança Social.
AA – Mas sente que era necessário esse apoio psicológico?
MS – Nós pensamos que estamos bem mas se calhar até nem estamos, acho que deveríamos ter um apoio especializado. Os amigos e a população dão-nos apoio e força, mas não sei se será o suficiente.
AA – Toda a gente refere que é um motorista cauteloso. Acha que neste acidente ia com velocidade excessiva?
MS – Não, penso que ia numa velocidade adequada para as condições que estavam nesse dia. Era um dia chuvoso e havia algum nevoeiro e fui traído por uma situação da via em que a sinalização era mínima; eu nem me apercebi da sinalização, apenas vi um sinal que estava caído, que era “de perigo” mas em cima do acontecimento. Se o piso estivesse em condições normais, penso que a velocidade era normal. Eu já passei naquela estrada muita vez – agora desde Setembro ou Outubro que lá não passava – e por isso penso que seguia a velocidade normal.
AA – A sinalização estava devidamente visível?
MS – Não, não estava. E foi já testemunhado por várias pessoas que aquilo não estava sinalizado em condições. Para o grau de dificuldade que tinha aquela zona, estava muito mal sinalizado.
AA – Se bem que de alguma forma já o tenha respondido, quanto a si qual é que terá sido a causa do acidente?
MS – A causa do acidente foi o mau estado do piso naquele local. O piso estava mais ou menos em condições, mas havia um declive com uma certa profundidade, e se isso não é fácil para um carro ligeiro como foi testemunhado por outras pessoas, muito mais difícil é para um carro com uma dimensão daquelas em que o controlo se perde mais facilmente.
AA – Se pudesse transmitir uma mensagem às vítimas do acidente, tanto às que partiram com às que estão feridas, às que sofreram e às que estão a sofrer, o que lhes diria?
MS – Que lamento muito, muito sinceramente o acontecido. Às que partiram desejo que descansem em paz, às famílias envio as minhas sinceras condolências, e aos restantes desejo rápidas melhoras e completo restabelecimento.•
Entrevista ao "Alto Alentejo" - 27/2/2013