27.5.12

OPINIÃO: O que é feito da olaria de Nisa?

Em Salvatierra de los Barros, na vizinha Extremadura espanhola, decorreu durante o fim de semana, a principal manifestação cultural e socio-profissional realizada na Península Ibérica em louvor da Olaria e do Barro. Como se ilustra pela notícia publicada abaixo, mais de cinco dezenas de olarias e de oleiros de Portugal e Espanha participaram nesta Festa Ibérica organizada de dois em dois anos, alternadamente, em Salvatierra de los Barros e S. Pedro do Corval (Reguengos de Monsaraz), curiosamente, um município da mesma província (Alto Alentejo) a que Nisa pertence.
Ora, nem esse facto, nem a circunstância, histórica, de o concelho de Nisa ter sido um importante centro oleiro e a sua olaria pedrada constituir, ainda hoje, uma singular e genuína forma de artesanato, que deu (e dá) nome e fama a esta terra, foram suficientes para que a Câmara Municipal se enchesse de brio e fizesse o mínimo que o bom senso e sentido de responsabilidade lhe impunha: fazer-se representar na mais importante iniciativa ibérica na defesa e promoção da olaria e do barro.
Enquanto nas reuniões camarárias têm prosseguido os “jogos florais” para se saber se a  Nisartes, se realiza ou não, este ano, os eleitos descuram o essencial e desperdiçam energias e oportunidades de fazer vingar aquilo que o concelho tem de mais genuíno e popular: a arte dos oleiros e a sua capacidade criativa geradora de peças únicas e, por isso mesmo, admiradas em todo o país e estrangeiro.
Andamos a discutir os “elefantes brancos” (termas, albergaria e outros) e vamos esquecendo, desprezando, aquilo que temos e mais nos identifica e que outros – com sentido oportunista – vão aproveitando em benefício próprio, fale-se dos queijos, do artesanato e da própria olaria.
O concelho de Nisa, é triste dizê-lo, mergulhou num sono profundo, letárgico e desmobilizador. A culpa será, em grande parte, das entidades públicas cujos dirigentes, ciclicamente, elegemos.
Mas não deixa de ser também responsabilidade nossa, do encolher de ombros indiferente e sistemático, a tudo quanto ocorre de negativo no concelho.
Limitamo-nos a votar, a transferir competências e deveres para outros, depositamos neles a nossa confiança e aí termina a nossa intervenção “democrática” e de cidadania.
Temos um papel expectante e amorfo que se traduz na falta de vivência activa e participação democrática, na ausência de questionamento dos poderes públicos e das instituições e na aceitação passiva, como um determinismo fatalista, de todas as situações que nos lesam como cidadãos, como contribuintes e como membros de uma mesma comunidade, em diversas áreas da nossa vida colectiva.
Aqui e agora, lembro e critico esta falta de bom senso, de responsabilidade, de empenhamento, diria até, de arrojo, da nossa Câmara na promoção de um dos ex-libris do nosso concelho: a olaria pedrada.
Uma “nódoa” que, a um ritmo impressionante, se tem vindo a juntar a outras e que mostra, sem sofismas, a inoperância que se instalou na Praça do Pelourinho.
A olaria de Nisa merece, indiscutivelmente, melhores e mais dedicados eleitos.
Mário Mendes