25.3.12

HISTÓRIA: Brasão do Cardeal Cerejeira foi desenhado por um nisense

João Deniz  Fragoso, nascido na Herdade do Azinhal (Nisa), em 1901 e pai de Rui de Freitas Martins Fragoso, foi um grande artista plástico, desenhador e cartunista, colaborando com as suas ilustrações para os principais jornais portugueses. Os seus desenhos com motivos de Nisa e que ilustraram alguns números do Álbum Alentejano e outras publicações regionalistas, são de uma beleza extraordinária, como temos, aliás, mostrado.
O que poucos sabem é que João Deniz Fragoso é o autor do brasão heráldico de D. Manuel Gonçalves Cerejeira, elevado à dignidade cardinalícia em Novembro de 1929, conforme nos dá conta um jornal da época, cujo texto transcrevemos: 
O brasão do Patriarca
"Tratando-se de uma signa, através de cuja composição se revelam os sentimentos pessoais e as preferências religiosas do seu autor, foi o próprio sr. D. Manuel Gonçalves Cerejeira quem fez a escolha, parece-nos interessante saber quais os atributos simbólicos por ele preferidos nas suas armas distintivas.
O brasão do novo purpurado é assim constituído: Assente sobre uma cruz firmada rectangular e um báculo em aspa, um escudo carregado com uma cruz de negro, orlada de prata.
Esta cruz é carregada, por sua vez, dum coração vermelho, cercado por uma coroa de espinhos e envolto num esplendor de ouro.
A encimá-lo, uma coroa de nobreza, em ouro também.
No ângulo direito da ponta do escudo uma estrela de sete raios em prata.
Em cima, sobre a cruz central, um triângulo: o símbolo da Santíssima Trindade.
Na ponta do escudo, três rosas: as rosas de Santa Teresinha do Menino Jesus, a jovem francesa canonizada há quatro anos, quando da grande peregrinação dos portugueses a Roma, em 1925.
A encimar todo o brasão, uma tiara. A divisa diz: “Adveniat regnum tuum”, que dá na tradução portuguesa: “Venha a nós o teu reino”.
A realização artística foi confiada ao distinto desenhista sr. João Deniz Fragoso, que em trabalhos da especialidade se tem afirmado uma das maiores competências portuguesas dos últimos tempos."
O CARDEAL CEREJEIRA
Manuel Gonçalves Cerejeira (Vila Nova de Famalicão, Lousado, Santa Marinha, 29 de Novembro de 1888 - Lisboa, Amadora, Buraca, 2 de Agosto de 1977), cardeal da Igreja Católica, foi o décimo-quarto Patriarca de Lisboa com o nome de D. Manuel II (nomeado em 18 de Novembro de 1929).
Eleito arcebispo de Mitilene em 1928, foi elevado ao cardinalato em 16 de Dezembro de 1929, pelo Papa Pio XI, com o título de Santos Marcelino e Pedro
Biografia
Era filho de Avelino Gonçalves Cerejeira (Vila Nova de Famalicão, Lousado, 14 de Abril de 1857 - Vila Nova de Famalicão, Lousado, 13 de Junho de 1927) e de sua primeira mulher Joaquina Gonçalves Rebelo (Fafe, Vila Cova, 30 de Maio de 1864 - Vila Nova de Famalicão, Vila Nova de Famalicão, 30 de Setembro de 1918).
Diplomado em Teologia e em Ciências Histórico-Geográficas pela Universidade de Coimbra, na respectiva Faculdade de Letras obteve em 1919 o grau de doutor em Ciências Históricas, com a tese «Clenardo e a Sociedade Portuguesa do seu tempo». Desse ano a 1928 foi professor da Escola onde se graduara.
Foi o Patriarca que dirigiu a Igreja Católica Portuguesa durante o Estado Novo; íntimo de Salazar (conheceram-se no Centro Académico de Democracia Cristã e viveram juntos cerca de 11 anos), procurou salvaguardar e restaurar a condição que o Catolicismo perdera durante o regime republicano (I República). Como tal, e a fim de apaziguar as tensas relações entre o Estado e a Igreja, foi um dos principais concorrentes e apoiantes para a assinatura da Concordata com a Santa Sé em 1940.
Era apoiante do Estado Novo, fundado pelo seu amigo universitário Oliveira Salazar. Apesar dessa ligação houve grandes tensões na defesa de cada uma das suas posições: os interesses do Estado, por parte de Salazar e os da Igreja, por Cerejeira.
Participou nos conclaves que elegeram os Papas Pio XII (1939), João XXIII (1958) e Paulo VI (1963), bem como no Concílio Vaticano II (1962-1965).
Outro importante dado do governo deste Patriarca foi a criação do Seminário dos Olivais e da Universidade Católica Portuguesa.
Resignou ao governo do Patriarcado em 10 de Maio de 1971, sendo substituído por D. António Ribeiro.