28.12.11

ESCRITORES DO CONCELHO: Romance do Eucalipto

Amei e fui amado; um amor eterno e quase de um século, grande amor.
Quando me senti sem forças, levaram a minha adorada fonte.
Onde estás, amor? Aonde andas, princesa, que não te vejo?
Mas, não morreste, pois não? Não te vi doente...
Mal adormeci, levaram-te!
Sim, adormeci, quando me cortaram os ramos e me dilaceraram as raízes! Não sabiam?...
E, quando acordei deste tormento, não vi a minha amada que tanto me deu de beber e tanta sede matou a tantos forasteiros.
Tanta sede que mataste
Ao forasteiro que passava
E os feirantes no Rossio
Até a louça lavavam!

Tanta altivez que eu tinha
Sempre cheio de vigor
Já não me sinto viçoso
Porque perdi o meu amor

Tantas noites, tantos dias
Tanto frio, tanto calor
Vou morrendo de tristeza
Levaram-me o meu amor

Saciava a minha sede
No teu regato, princesa
Deixei de beber de ti
Vou morrendo de tristeza

Estou a falar do Eucalipto
E da Fonte que ele adorava
Tirem-lhe também o Relógio
Era só o que faltava!...
João da Cruz